Director do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do IPOLFG

Director do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do IPOLFG

Presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia (2000-2002)

Presidente do Grupo de Estudos de Cancro de Cabeça e Pescoço (2010-2014)

Tel 217229800 - Ext-1863


Consultório:
Av. António Augusto Aguiar 42 - r/c dt.
Lisboa
Tel. 213578579/213 542 853
Mail: jorgerosasantos@gmail.com








segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A situação de catástrofe económica e social


A situação de catástrofe económica e social em que Portugal se encontra sem possibilidade de resolução a curto ou médio prazo, o sentimento resultante da perspectiva do nosso futuro miserabilista, a ausência de expectativas futuras para a geração dos mais novos envolvendo filhos e netos, a convicção da impunidade imoral em que vivem os nossos ex. e actuais políticos todos eles responsáveis pela actual crise, são razões mais do que suficientes para o actual sentimento de revolta que nos envolve.

Não me constituo como uma excepção.

O direito à indignação é um dos direitos fundamentais das democracias, e não me envergonho por senti-la.

Tudo está posto em causa.

O Estado Social faliu mas os responsáveis por décadas de erros acumulados continuam a usufruir do bem-estar dos intocáveis.

Vejam-se os políticos, os banqueiros, os economistas, os gestores todos eles crânios iluminados no meio de uma horda de jumentos.

Nasci e estudei dentro dos padrões socialmente instituídos.

Desenvolvi o saber e o conhecimento ascendendo numa carreira após incontáveis concursos públicos e nunca por nomeação.

Trabalho na função pública há trinta e nove anos

Não tenho subvenções vitalícias nem nunca recebi qualquer premio pecuniário atribuído á minha dedicação.

À minha profissão de médico e de cirurgião, entreguei todo o meu esforço, todo o meu empenho, toda a minha paixão, procurando acima de tudo o melhor para os meus doentes.

Falhei em muitos casos, mas em muitos consegui ajudar compensando as derrotas que sempre me penalizaram.

Mantive e desenvolvi o caracter que genética e que de forma comportamental me foi transmitido.

Procurei ser sempre honesto, metódico e trabalhador.

Procurei seguir os modelos e os princípios éticos e morais que me ensinaram.

Contrastando com toda esta dinâmica, presentemente custa-me ver a dificuldade presente e futura dos trabalhadores incluídos na minha geração.

Pensámos que poderíamos ter um fim de vida confortável, sem luxos mas com a dignidade suficiente para nos mantermos interessados na vida.

Custa-me também ver a ausência de perspectiva dos nossos filhos, famílias separadas pela necessidade de encontrar trabalho, filhos adiados pela incapacidade económica para os ter e manter, cêntimos contados á exaustão, ausência de sonhos, ausência de perspectivas, tristeza, dificuldade, revolta.

É a indignação e revolta que lentamente toma conta de todos nós.

E nada é mais perigoso do que isto.

Somos considerados um povo de brandos costumes, mas tivemos revoltas, defenestrados, e regicidas.

O lume arde em fogo brando mas dum momento para o outro pode atear e tornar-se incontrolável.

Nesse momento, muitos terão procurar um refúgio para não sofrerem graves queimaduras.

 

domingo, 28 de outubro de 2012

IPO remodela serviços de internamento
28 09 2012


A primeira fase das obras de remodelação do internamento dos Serviços de Cirurgia Cabeça e Pescoço (CCP) e Otorrinolaringologia (ORL), situado no 5.º piso do Pavilhão Central, ficou concluída no final do mês de Agosto. De acordo com a informação prestada pelos responsáveis dos serviços, prevê-se que as obras da segunda fase, que já decorrem, terminem até final do ano.

Esta intervenção “era uma ambição antiga” que tinha por principal objectivo melhorar as condições logísticas e assistenciais prestadas aos doentes da Instituição, e simultaneamente as condições de trabalho para todos os profissionais.

O número de doentes em cada enfermaria varia entre os dois e os cinco, estando cada quarto equipado com casa de banho e com um televisor por cama. A sala com maior capacidade de acolher doentes é o recobro pós-operatório, com um máximo de seis camas, no qual os doentes estão em média 24 horas. Os doentes passam a usufruir também de melhores condições nas áreas comuns, como é o caso da sala de espera, do refeitório e da sala de convívio. O Serviço dispõe ainda de uma área de isolamento, com duas camas, destinada a doentes infetados, no sentido de prevenir o contágio a outros doentes internados.


“As condições de oferta de serviços melhoraram numa área tão mutilante como esta, que afecta o doente sob ponto de vista psicológico e o seu relacionamento humano. Os tratamentos são os mesmos, mas melhorou-se a área do serviço, podendo os doentes usufruir de um espaço mais confortável e acolhedor. É importante que os doentes se sintam bem do ponto de vista psicológico, um factor de extrema importância na recuperação. “ – Dr. Miguel Magalhães – Director do Serviço de Otorrinolaringologia do IPO de Lisboa

“As obras nos serviços de internamento são sempre complicadas, é difícil manter o seu funcionamento a 100%, mas com o esforço dos profissionais e com um acréscimo de trabalho foi possível levar a bom termo todo este processo. Quem aqui trabalha há mais tempo comprovou a notória degradação do serviço, mas esta requalificação é sem dúvida uma mais-valia para os doentes.” – Dr. Rosa Santos – Director do Serviço de Cirurgia Cabeça e Pescoço do IPO de Lisboa.

Viver com Cancro: Perguntas & Respostas?


Sessões Informativas para Doentes, Familiares e Amigos


O Núcleo de Oncologia Psicossocial e a Administração do Instituto Português de Oncologia de Lisboa têm promovido sessões de informação sob o tema: “Viver com Cancro: Perguntas & Respostas”, especialmente destinadas aos doentes e familiares e que visam os aspectos médicos e psicossociais da doença oncológica.

Estas sessões têm frequência mensal, (última 4ª feira do mês), horário pós laboral e são abertas a todos os utentes, familiares, amigos e colaboradores do IPOLFG, bem como a todos quantos queiram saber mais sobre o Cancro e suas repercussões na pessoa doente, família e comunidade.

Cada sessão conta com a presença de especialistas no tema focado, seguindo-se um período aberto de debate e esclarecimento de dúvidas.
Ao promover a informação e a comunicação entre utentes e profissionais, espera-se estar a facilitar adaptação à doença e a adesão ao tratamento, bem como a satisfação com a equipa terapêutica e com a Instituição.

A próxima sessão informativa será no dia 31 de Outubro de 2012, dedicada ao tema "Cancro da Cabeça e do Pescoço: diagnóstico e tratamento", apresentado pelo Dr. Rosa Santos - Serviço de Cirurgia Cabeça e Pescoço e Dra. Rute Pocinho - Serviço de Radioterapia. A referida sessão irá decorrer no Anfiteatro do Instituto, entre as 18.00 e as 19.30.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012


VI CURSO DE ONCOLOGIA ORAL DO IPOLFG


VI CURSO DE ONCOLOGIA ORAL
JORNADAS DE PATOLOGIA ORAL E DAS GLÂNDULAS SALIVARES
SERVIÇO DE CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO
Director: Dr. Jorge Rosa Santos

Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil IPOLFG , EPE

15 e 16 de Novembro de 2012
LOCAL: Anfiteatro do IPOLFG - Lisboa

DIRIGIDO A: Médicos Estomatologistas, Médicos-Dentistas e estudantes de Medicina e de Medicina Dentária, Cirurgiões Maxilofaciais, ORL, Cirurgiões Plásticos, Cirurgiões Gerais, Clínicos Gerais, Higienistas Orais e todos os profissionais ligados à Saúde Oral

DATA : 15 de Novembro de 2012 (5ª feira) e 16 de Novembro( 6ª feira)

INSCRIÇÃO:
Estudantes de Medicina e de Medicina Dentária * Grátis
Médicos e Médicos-Dentistas Euros 50
Profissionais de Saúde Oral não médicos Euros 50
Profissionais do IPOLFG…………………………………………..........Grátis

* Fotocópia do cartão de estudante

Secretariado :

Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço
IPOLFG, EPE
Helena Reis
Av. Prof . Lima Basto
1099-023 Lisboa
Tel 21 722 98 00 - ext. 1518, BIP 4137
Fax 21 724 87 47
E mail: cir.cabecapescoco@ipolisboa.min-saude.pt
ccp@ipolisboa.min-saude.pt

Aceitação de posters até 31 de Outubro – deverá ser enviado resumo do poster com indicação dos Autores e Serviço ou Instituição onde foi elaborado


5ª feira – 15 de Novembro
8,30 h - Abertura do Secretariado

9,15 / 12 h – Como fazemos - cirurgia em directo comentada Daniel de Sousa

12,15 h - Abertura oficial do Curso

Conferência : SNS em tempos de contigência - Dr. Álvaro Beleza

15 h – Mesa - redonda: Tratamento do cancro oral – estado da arte
Moderador: J. Rosa Santos
Cirurgia J. Rosa Santos
Eduardo Netto/Telma Antunes
Oncologia médica e carcinoma avançado
Margarida Ferreira/Isabel Sargento
Experiência do Serviço Mariluz Martins
Discussão


17 h - Mesa-redonda : Complicações orais das terapêuticas do cancro
Moderador: Daniel de Sousa
Reabilitação oral João Caramês
Hipo e assialia pós-Rt Filipe Freitas
Bifosfonatos e osteonecrose dos maxilares J. Silva Marques
Discussão


18 h Discussão de posters


6ª feira – 16 de Novembro
9 /12 h – Como fazemos - Cirurgia em directo comentada Carlos Zagalo

12,30 h- Conferência : HPV- mecanismos de infecção e carcinogénese oral Prof. Kari Syrjanen



15 h – HPV e cancro oral
Moderador: Rui Medeiros
Epidemiologia do cancro da orofaringe e HPV – factores de risco em mudança Stina Syrjänen
Implicações da infecção HPV para o tratamento Stina Syrjänen
Biologia molecular e marcadores no diagnóstico Carmo Ornelas
Rastreio ( screening ) e vacinação Maria Clara Bicho


17 h – Tumores das glândulas salivares - Diagnóstico e tratamento actual
Moderador: Isabel Fonseca
Avanços em patologia das glândulas salivares Isabel Fonseca
Parotidectomia total ou parcial? Pedro Gomes
Síndrome de Frei Conceição Magalhães
Dinamização da face paralisada Miguel Vilares
Discussão


Participantes do IPO
Dr Jorge Rosa Santos (CCP - Director do Serviço)
Prof. Doutor Daniel de Sousa (CCP e FMDUL)
Prof. Doutor Carlos Zagalo (CCP , FMUL e ISCS Egas Moniz)
Dr. Pedro Gomes (CCP)
Dra. Conceição Magalhães (CCP)
Dr. Miguel Vilares (CCP)
Dra. Mariluz Martins (CCP)
Profª Doutora Isabel Fonseca (Dep. Patologia Morfológica)
Profª Doutora Carmo Ornelas (Lab. Virologia)
Dr. Eduardo Netto (RT)
Dra. Margarida Ferreira (OM)
Dra. Isabel Sargento (OM)

Participantes convidados

Prof . Doutor Kari Syrjänen (Universidade de Turku, Finlândia)
Profª. Doutora Stina Syrjänen ( Universidade de Turku, Finlândia)
Prof. Doutor Rui Medeiros (IPO Porto, ICBAS)
Profª Doutora Maria Clara Bicho
Prof. Doutor Luís Costa (HSM)
Prof. Doutor João Caramês (FMDUL)
Prof. Doutor J. Silva Marques ( ISCS Egas Moniz)
Dr. Filipe Freitas (FMDUL)

TASK FORCE DA EHNS

Realizou-se nos dias 20 e 21 de Setembro de 2012 a Reunião da Task Force para as campanhas de sensibilzação para o Cancro de Cabeça e Pescoço, organizada pela EHNS em Londres na BMA. Tratou-se de uma reunião limitada à participação das diversas Sociedades Europeias para o Estudo do Cancro de Cabeça e Pescoço. O GECCP foi convidado a participar nesta reunião tendo tido uma participação activa apresentando os seus resultados obtidos na semana de luta contra o Cancro de Cabeça e Pescoço organizada em 2012. A reunião contou com a participação da Axon que ira desenvolver um projecto global para a sensibilização do publico dos médicos dentistas e dos médico de Medicina Geral e Familiar, a nivel Europeu.
A reuniao contou com a presença de Jean-Louis Lefebvre, presidente da EHNS, Renne Lemmans, Lisa Licitra, Stjina Sjirian, Prof. vermoken, Tom Hudson responsavel pela ligação ao Parlamento Europeu para todos os assuntos da oncologia e Sat parmar cirurgião de Birminghan.
O GECCP oficializou a sua adesão à EHNS.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Sampaio da Nóvoa e Jose Gil na RTP


A Radiotelevisão Portuguesa brindou-nos nos últimos três dias
com três entrevistas conduzidas por Fátima Campos Ferreira a personalidades
marcantes do pensamento em Portugal.
Sampaio da Nóvoa, José Gil e Freitas do Amaral.
Limito-me, pela nobreza intelectual que lhes reconheço, a
falar dos dois primeiros.
Do terceiro, reconhecendo-lhe enormes qualidades, não posso
esquecer que foi actor de um sem número de actos e omissões que contribuíram para
a caminhada impune para a catastrófica situação actual.
Por esta razão nem sequer quero falar dele, ciente de que a
democracia me concede esse direito.
Num período da historia de Portugal caracterizado por uma
trágica situação financeira com gravíssimas implicações económicas e sociais,
pelo reforço da máxima do “salve-se quem puder” com atropelo ético de
princípios e referencias fundamentais da Vida, de comportamentos medíocres e
corruptos, de jogo de interesses obscuros com total impunidade jurídica, ouvir
pensadores como Sampaio da Nóvoa e José Gil defendendo o principio ético e constitucional
do Estado Social, constitui um bálsamo e reforça a nossa esperança de que o
pais não esta irremediavelmente moribundo.
“Redistribuição” e “Equidade”, duas palavras simples mas de
tão complexa assimilação.
Sampaio da Nóvoa, já no dia de Portugal nos tinha brindado
com um discurso notável que certamente fez pensar aos restantes oradores a
inutilidade da manifestação artística e do conteúdo da sua oratória.
Na entrevista da RTP1, a tal estação de radiodifusão que
alguns pretendem concessionar, Sampaio da Novoa e José Gil, conseguiram
transmitir a todos os portugueses, a necessidade e o imperativo de se
reerguerem e de lutar pelos princípios básicos que norteiam o conceito e a
vivência de uma democracia ocidental.
A RTP ao transmitir estas entrevistas antes da tomada de
posse do novo Conselho de Administração prestou inequivocamente um serviço
público a todos os portugueses.
Que os nossos concidadãos aproveitem e serenamente possam
energicamente transmitir aos nossos governantes, aos partidos, aos ex políticos,
e aos responsáveis em geral, o sinal inequívoco de um “Basta!”.
Citando
Óscar Wilde, “podemos suportar as desgraças que vêm do exterior porque são
acidentes. Mas sofrer pelas nossas próprias faltas... esse será o tormento da
vida”.


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

GRUPO DE ESTUDOS DE CANCRO DE CABEÇA E PESCOÇO



Tal como tinha anunciado na abertura do 1º Simpósio organizado pelo Grupo de Estudos de Cancro de Cabeça e Pescoço que decorreu nos dias 20 e 21 de Maio de 2011 em Lisboa, temos um
grande orgulho em divulgar o site do GECCP, como espaço de comunicação multidisciplinar
“on line” para a abordagem diagnostica e terapêutica destes tumores.
O endereço na internet é:
http://geccp.pt/
Trata-se de um espaço privilegiado para facultar informação sobre este tipo de tumor ao público em geral, de sensibilização para a necessidade do diagnóstico precoce deste tipo de lesões como objectivo prioritário para a redução significativa das taxas de mortalidade, e fórum de transmissão de experiências e de conhecimento entre todos os profissionais médicos e não médicos envolvidos na multidisciplinaridade diagnóstica e terapêutica que caracteriza estes tumores.
Será também uma forma de divulgação de todos os eventos científicos envolvendo esta área da oncologia, e um fórum para a divulgação de consensos e guidelines para a abordagem destes
tumores.
De todos os profissionais sem excepção esperamos a contribuição para a manutenção, dinamização e actualização deste espaço, invertendo a tendência de subalternização dos tumores desta área anatómica específica, reforçando a sua real importância junto do público e dos
profissionais de saúde.
Encontram-se já publicados os consensos, resultantes e reuniões cientificas efectuadas pelo GECCP, assim como informação sobre a epidemiologia, factores de risco e diagnóstico precoce e tratamento destinado ao público em geral.
Esperamos a aderência e a contribuição de todos ao GECCP e ao seu site.

domingo, 5 de agosto de 2012

Serviço Nacional de Saúde e a sua condenação politica


Num momento em que em Portugal se dá por adquirida a insustentabilidade do SNS e a necessidade de reformular o Estado Social na área da saúde, em Londres na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos 2012, os organizadores não encontram melhor tema do que o de homenagear o National Health Service (NHS).
Tendo com o pano de fundo o Sistema de Saúde Inglês, passível de críticas, na sua estrutura, no seu desempenho, nas falhas de produtividade e na relação custo/beneficio, com custos pesados para toda uma nação, os ingleses em plena crise mundial não tem vergonha de perante milhões de espectadores defender e homenagear um sistema, que nos seus fundamentos constituiu uma marca Europeia do pensamento humanista do período do pós guerra contrapondo-se a filosofias de estados oligárquicos, xenófobos e fascistas.
Os Ingleses, governados por um governo conservador e liberal, enalteceram perante todo o mundo um sistema de saúde baseado em ideais e princípios que valorizam as ações humanas e os valores morais de respeito, justiça, honra, amor, liberdade e solidariedade.
Enquanto isto se passa num pais caracterizado por hábitos, tradições e leis seculares, em que o orgulho nacional sempre foi invocado para nos momentos mais difíceis unirem esforços e lutar contra a injustiça, em Portugal os que falam da sustentabilidade do SNS são apelidados de visionários e perigosos esquerdistas.
Esta é a visão dos chamados "Young Urban Professionals" vulgarmente tratados por “Yuppies” caracterizados por uma formação universitária, trabalhando preferencialmente na área
económico-financeira e seguindo invariavelmente as tendências da moda.
Eles, os grandes responsáveis pela catástrofe económica e financeira nacional e mundial, atribuem ao Estado todos os males e pretendem resumir a sua intervenção a uma expressão negligenciável.
Esta visão não anda muito longe da veiculada durante governação Salazarista de que todos os que discordavam dos ditames do Estado Novo eram perigosos comunistas.
Este argumento constitui uma “desonestidade e manipulação intelectual” lamentável e que não deveríamos aceitar.
Todos estamos cientes das dificuldades por que Portugal passa.
Todos estamos dispostos a sacrifícios que obedeçam aos princípios da equidade caracterizada por um Estado com preocupações socias genuínas.
Mas que haja uma honestidade mental que possa servir a todos sem excepção, sem desvios provocados pelos interesses particulares que sistematicamente se sobrepõem ao interesse de uma nação.
Parem o ataque sistemático ao SNS responsabilizando-o pelo mal de todos os males.
E necessário mais do que nunca a enorme virtude da honestidade.

sábado, 7 de julho de 2012

Expresso 3-3-2012 / Entrevista a Clara Ferreira Alves


JORGE ROSA SANTOS

"Todos nós vamos tendo pequenos cancros"

O Diretor do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Português de
Oncologia fala do cancro e de como é tratado em Portugal. E não poupa a Fundação
Champalimaud, que acusa de ter máquinas, estacionamento, jardins e "tudo muito
bonito"... mas não ter doentes.
FOTOGRAFIAS DE ANTÓNIO PEDRO FERREIRA
POR Clara Ferreira Alves
O almoço do médico foi no refeitório do Instituto Português de Oncologia (IPO),
antes de começar as cirurgias da tarde. JORGE ROSA
SANTOS, cirurgião oncológico, diretor do Serviço de Cirurgia de
Cabeça e Pescoço do Instituto Português de Oncologia, não tem tempo livre.
Começou a trabalhar antes da oito horas da manhã e prepara-se para sair depois
das dez da noite. Falámos de cancro e dos seus doentes, de hospitais e da
dedicação profunda a casos clínicos que transcendem, pelo balanço entre a vida e
a morte, a relação entre médico e paciente. Em Portugal, se tudo funcionasse
como funciona o IPO, um centro de excelência numas decrépitas instalações, não
era mau. Falámos ainda da inexistente filantropia e da Fundação Champalimaud,
que tem tudo — instalações, máquinas, jardins —, mas não tem doentes. Doentes
são o que o IPO tem mais, porque o cancro é a primeira causa de morte natural em
Portugal. O IPO está em mudanças. Toda esta agitação coincide com a
saída do Conselho de Administração, que teve a virtude de definir de uma vez por
todas se saíamos ou não daqui e, tendo sido decidido não sair por razões de
ordem financeira, resolveu investir na recuperação física da estrutura
existente, que estava degradada e que esteve parada anos e anos à espera da
mudança.
- Há quantos anos trabalha no IPO? E que balanço faz desse
período de instabilidade, quando se dizia que o IPO ia para outro lugar?
- Há muitos, desde 1984. Tivemos aqui dois processos. Há uns 15 anos,
era a doutora Maria de Belém administradora, pensou-se criar um pavilhão novo,
que seria o do ambulatório. Para aliviar e criar espaços devolutos neste
edifício. Durante anos e anos não se investiu na renovação dos espaços de
tratamento ambulatório a pensar nesse pavilhão, que nunca foi construído. Depois
veio a ideia da saída do Instituto deste local. Havia gente a favor e contra, e
eu era formalmente contra. Temos espaço, boa acessibilidade, há um património
histórico a manter. Era normal manter as instalações aqui, apesar das vantagens
de ter um hospital de raiz, novo, com um centro maior e com mais valências. A
saída estaria de acordo com a ideia de que este espaço poderia ter um grande
valor imobiliário, mas aí caberiam outros constrangimentos, porque o espaço foi
doado por uma família para aqui ser instalado o IPO. Chegaram a aparecer
notícias sobre familiares das pessoas que doaram o espaço no sentido de o
recuperarem. Segundo o PDM, aqui seria uma zona verde. O IPO está construído
sobre o túnel do Metro. Sempre achei preferível manter o hospital aqui.
- E, tal qual está, o hospital é suficiente para as necessidades?
- Temos espaço. São sete hectares. Era perfeitamente possível
construir um novo hospital, com estacionamento e novos edifícios que pudessem
suprir as necessidades do IPO. - Nem se fez o hospital de dia nem
mudaram de sítio... - Nunca se constituiu formalmente nenhum movimento
para que não se mudasse de local. Não mudámos por outras razões. Chegou a ser
feito, no Alto da Bela Vista, o lançamento da primeira pedra do novo IPO, com
uma megatenda, com discursos e champanhe. Mas ficámos aqui. Agora foram
autorizadas as obras de recuperação e de beneficiação. Nos pisos de internamento
tínhamos deficiências e enfermarias com sete e oito doentes, com casas de banho
de homens e mulheres em condições horríveis. íamos gerindo as enfermarias de
acordo com o afluxo de doentes. - O IPO só recebe doentes do SNS?
- Não recebe doentes privados. Só recebe doentes do SNS e dos
subsistemas de Saúde. Antes de 74 havia uma parte de um piso afeto a doentes
particulares. Eram operados fora do funcionamento dos blocos operatórios. Antes
do 25 de abril havia clínica privada nos hospitais públicos. Isso acabou. Aqui
nunca há subaproveitamento dos blocos operatórios. Eu hoje tenho bloco e vou
acabar de operar às dez da noite.
- Este IPO recebe doentes do norte e
do centro ou os outros IPO cobrem tudo?
- Cobrem. Nós recebemos um doente que precise de ser operado a uma neoplasia e que tenha os filhos a trabalhar na zona de Lisboa, porque ele vai precisar de acompanhamento familiar.
O apoio é maior. Mas também pode acontecer ao contrário. Não há uma rigidez
total no acesso aos cuidados oncológicos.
- Qual é a especificidade do IPO? Não é um hospital igual aos outros.
- O IPO ganhou conhecimento em áreas muito específicas da patologia imunológica. Eu trabalho na área da cabeça e pescoço, que foi uma área que se desenvolveu muito, e há poucos
hospitais a tratarem patologias da cabeça e pescoço. Há outras áreas, cancro
ginecológico, da mama, que ganharam aqui grande know-how de tratamento
cirúrgico. E no IPO coexistem as diversas valências que constituem o tratamento
básico do cancro. O cancro da cabeça e pescoço, por exemplo, é tratado
cirurgicamente, complementado com radioterapia, antibioterapia, e aqui
agregam-se esses tratamentos. O doente passa por grupos multidisciplinares de
patologia. Os médicos programam, delineiam conjuntamente uma estratégia
terapêutica e conhecem o doente. Não há atos avulsos. No IPO há uma hierarquia
vertical, mas as estruturas horizontais cortam transversalmente essa estrutura
quando se trata um doente. Tenho-me batido muito por isto. Fomos aperfeiçoando o
método terapêutico. O Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço entusiasma-me
muito. Um serviço que não tenha designação homónima às carreiras médicas é uma
coisa que não existe. O serviço foi criado assim em 1969, chamava-se Clínica de
Tumores de Cabeça e Pescoço. Envolvia otorrinolaringologia, estomatologia,
maxilofacial, plástica e, na altura, neurocirurgia. Hoje temos um neurocirurgião
consultor, que trabalha com o professor Lobo Antunes. Ora esta estrutura é
inovadora e inspirada no Memorial (Sloan-Kettering) de Nova Iorque. Várias
pessoas que aqui trabalhavam, o professor Francisco Martins, o professor José
Conde, inspiraram-se nesse hospital. Isto nem sempre é entendido, e as
especialidades querem ter espaço próprio. Esta estrutura é, desde 69, uma
estrutura extraordinária. No estrangeiro existe cirurgia por áreas topográficas,
cabeça e pescoço, pélvica, etc. A cirurgia oncológica é uma cirurgia não de
órgão mas topográfica, de região.
- Essa multidisciplinaridade funciona bem? Não há fricção? Como haveria, por exemplo, em grandes hospitais, como Santa Maria ou São José?
- Funciona. Aqui somos muito poucos.
Somos duzentos e poucos médicos. É insuficiente, sem ser extremamente
insuficiente. O Instituto nunca quis alargar os quadros médicos. Não pode ser
comparado com um hospital como Santa Maria, que tem um corpo clínico extenso. No
IPO, se sai um médico, não entra outro. - As estatísticas dizem que
uma pessoa morre de cancro de tantos em tantos minutos, poucos... O leigo tem a
sensação de que o cancro é quase epidemiológico. Dizima a família, os amigos, os
conhecidos.
- Há um aumento do cancro ou da deteção?
- Há um aumento da doença. Aumento que é uma resultante provável do aumento da esperança de vida. Há quem diga que todos nós, ao longo da vida, vamos ter um cancro, depende
de quando o vamos ter. Todos nós vamos tendo pequenos cancros. Os nossos
sistemas genético e imunológico corrigem os riscos da duplicação celular. Por
vezes existe um erro genético que torna o cancro inevitável. Por exemplo, o
carcinoma medular da tiroideia está associado ao gene RET. Quando vemos que um
doente é portador da mutação do gene, se formos fazer um estudo genético dos
filhos recém-nascidos ou pequenos e se a criança tiver a mutação do gene,
propomos que seja operada. Ciairgia profilática. Também existe no carcinoma da
mama ligado a uma determinada alteração genética, embora não seja tão seguro
como na tiroideia, porque aí temos a certeza de que a criança com a mutação do
gene vai desenvolver um carcinoma medular. Tiramos a tiroide a bebés de seis
meses. Qualquer pessoa sem tiroide vive normalmente. Pode ter filhos, etc. Claro
que, se um doente sabe que tem a mutação do gene, tem de estar avisado de que a
sua descendência corre esse risco, aconselhamos mas não proibimos. Fazem-se
estudos pré-fertilização, estudo genético pré-natal. Os espermatozoides são
estudados do ponto de vista genético e escolhem-se os ovócitos que não tenham o
erro genético. São esses que são utilizados na fertilização. Há cancros em que a
alteração do gene está associada ao cancro, cancro medular da tiroideia, da
mama, certos casos de cancro do estômago... O professor Sobrinho Simões tem
estudado isto até à exaustão.
- De que modo é que interagem com o SNS? Um doente que tem esse carcinoma pode ser tratado num hospital que não segue o método terapêutico integrado do IPO?
- Felizmente, 80% ou 90% desses carcinomas passam pelos IPO. E nos HUC, ou em Santa Maria, também já estão a fazer o estudo genético. O problema do carcinoma da mama é mais complicado, porque o número é muito grande e o tratamento cirúrgico abarca muitas
instituições hospitalares. - Na cavidade oral também faz cirurgia
profilática ou só opera quando existe carcinoma? Só quando existe carcinoma.
Profilaxia só no da tiroideia, porque este carcinoma mata. E 80% da patologia
oncológica da cabeça e pescoço é tratada no IPO.
- São consultados por doentes e por médicos?
- Claro! E digo a todos que tenho imenso gosto em que venham cá apresentar o caso aos médicos envolvidos no tratamento, para o discutirmos, promover a realização de consultas multidisciplinares mesmo com doentes que não pertençam à instituição. No outro dia acabei uma consulta multidisciplinar de tiroideia daquelas que deixam a cabeça em água. E fomos
almoçar ao refeitório. Cirurgiões, endocrinologistas. a medicina nuclear... e
estava a dizer-lhes: já viram o contrassenso de tudo isto? Não sei se está
dentro do financiamento dos hospitais, mas sabe que temos de viver de dinheiro.
Temos um orçamento. O hospital é financiado pelas consultas e por GDH, Grupos de
Diagnóstico Homogéneo, que correspondem aos internamentos. Cada internamento
gera um GDH, e o hospital é pago de acordo com esse GDH. Cada doente tem um. O
processo está relativamente simplificado, mas causa algumas perturbações e erros
nos GDH, que foram criados nos Estados Unidos e não apenas para instituições que
tratam cancro. Um doente operado tem um código, se é diabético tem outro código,
se tem um stent tem outro código, e os códigos são metidos numa máquina que gera
um GDH. Há aqui um problema grave, que é o da qualidade do ato prestado. Se o
doente é tratado num determinado hospital que gera um GDH e acaba a ter de ser
reoperado cá, vamos receber exatamente o mesmo GDH que eles receberam. Não é
valorizado o problema da qualidade na geração do GDH e no financiamento do
hospital. Eu opero um doente que tem um CGH, e o hospital recebe uma quantia.
Suponhamos uma parotidectomia. uma operação que pode ser bem ou mal feita. Nos
casos em que, por erro do cirurgião, ela tenha sido mal feita, o CGH é igual. O
problema da qualidade não tem repercussão no CGH.
- Como é que se faz a avaliação da qualidade para diferenciar o financiamento?
- Todas as instituições deveriam ter mecanismos de avaliação de qualidade, auditoria
interna e externa...
- Essa avaliação não existe.
- Mas tem de existir! Eu tenho de ser avaliado. Se não cumpro, vou para a rua ou deixo de
ser diretor de serviço. - Isso seria uma revolução na medicina. Os médicos são impunes. Nunca respondem pelos erros, nunca são avaliados...
- Mas deviam ser.
-Vejamos as consultas, que são outra forma de
financiamento. Quando um doente vai fazer uma TAC, não paga. No preço da
consulta — a primeira são 90 euros — estão incluídos os valores dos atos de
diagnóstico. Tá percebe que quanto menos exames pedir mais poupo. O que tem um
efeito perverso. Os 90 euros têm de incluir todos os exames que eu pedir. Quando
o doente vem mostrar os exames, o hospital recebe 80 euros. Por cada consulta há
um valor que é pago ao hospital. Mas imagine que os exames não chegam e tenho de
fazer um PET, que é caríssimo. Uns 600 ou 700 euros. Posso pedir um PET, que o
IPO tem de fazer. Estes valores são pensados para em cada 20 doentes ser
possível pedir um PET. - Se não pedir um PET para não sobrecarregar,
pode estar a pôr a vida do doente em risco?
- Pode acontecer.
-Mas nunca aconteceu haver exames pedidos que não fossem realizados. Faço justiça ao
CA. Pedimos um PET, mas muitas vezes não temos logo vaga, podemos ter de esperar
um mês.
- Se houver urgência total, podem mandar o doente para outro hospital?
- Podemos. E nunca tive qualquer problema. Espero não vir a
ter. O IPO funciona bem, mas precisa de mais recursos humanos, para repor as
pessoas que saíram. As admissões estão de certa forma coartadas, o que quer
dizer que quando encontro alguém que deve ser admitido por se integrar no
espírito do serviço, condição pela qual sempre me bati, não o posso fazer. Tem
de passar pela tutela. Não se pode tratar a Saúde de uma forma cega, limitativa.
Cada instituição é especial, cada doente é um caso.
- O cancro inspira terror. Penso que se há um hospital que toda a gente quer ver a funcionar em
pleno é o IPO. E ninguém se importa de pagar impostos para isso. Falámos já na
deteção do cancro e no aumento da esperança de vida. Há também mais meios de
diagnóstico do que havia. De que modo é que as máquinas mudaram um serviço como
o seu?
- A maior parte dos casos é diagnosticada de forma relativamente simples. Depois do diagnóstico temos de decidir o que vamos fazer, e para isso temos de fazer um estadiamento local, regional e sistémico da doença. A língua, por exemplo. Temos de ver se tem metástases regionais, no
pescoço, e se o doente tem metástases pulmonares ou hepáticas. A terapêutica é
diferente em função do estadiamento. O PET ainda não está aceite nos protocolos
como método de estadiamento de um doente com um cancro de cabeça e pescoço.
Porque o fenómeno da metastização sistémica é um fenómeno tardio nesse cancro. A
maior parte dos nossos estudos é importada, dos EUA etc. Não temos capacidade
para fazer esses estudos, apesar de a investigação básica científica ter
avançado muito por cá, Mas a investigação em custeio não está muito
desenvolvida, nem a contabilidade analítica, que tanta falta faz nas nossas
instituições. Na maioria desses estudos, o PET não é aceite como meio de
estadiar doentes pré-operatoriamente. Se em 50 doentes pedirmos três ou quatro
PET e se as outras consultas fizerem o mesmo, entope o PET. O nosso PET ainda é
um modelo antigo que não incorpora a TAC, não é um PET-CT. Penso que o concurso
está aberto para um novo PET.
- O que encarece o PET é o custo da máquina?
- Da máquina e dos radiofármacos. São muito caros. Num PET é
utilizada uma determinada droga, um açúcar, o FDG-18, que é metabolizado nas
células com maior índice metabólico, que são as cancerosas. E no músculo do
coração e no cérebro, que não param. O FDG-18 não dá para o cérebro. O FDG é
bombardeado para se tornar radioativo, é necessário um ciclotrão. Há outros
radiofármacos para outros exames. Nos doentes operados temos grande dificuldade
em ver se o doente tem alguma recidiva ou se são só sequelas, e o PET e
importantíssimo para essa avaliação. É um exame excelente.
- Falou da falta de contabilidade analítica. Como é que se otimizam os custos num hospital
destes, onde tudo é tão caro? E suponho que não existam neste país filantropos,
nem mesmo os que por aqui passaram, que dêem dinheiro para máquinas, alas,
enfermarias, ajudando o hospital a servir melhor os doentes... O Estado paga
tudo.
- Não existem estudos de contabilidade analítica. Nem filantropia. No tempo da Madame Marquet, que era então a dona do Ritz, o IPO tinha lençóis que tinham escrito Hotel Ritz. Era a grande filantropa do IPO.
Veja o caso do Duarte Lima, foi tratado aqui e ficou muito ligado ao IPO. Teve
um papel fundamental nos problemas dos dadores de medula. Quando havia uma
festa, ele era convidado e sempre o fomos cumprimentar. Ele não foi um
filantropo, mas tentou ajudar com o seu nome. Mas já trataram gente
importante e com dinheiro. Nos Estados Unidos, os doentes gratos dão muito
dinheiro aos hospitais. Não aqui. 0 último foi o comendador Nunes Correia, que
deu muito a este hospital. Foi há uns dez anos. A pneumologia foi toda montada
por ele. Há uns dinheiros da Gulbenkian, mas não se integram no conceito de
filantropia. E não tenho conhecimento de que isso suceda no Porto, que o Belmiro
de Azevedo ou outro dêem dinheiro...
Não existe uma ala Belmiro de Azevedo ou Américo Amorim, ou uma ala Jardim Gonçalves ou Ricardo Salgado, ou de qualquer outra personagem endinheirada que tivesse decidido ser generosa com o próximo. Em Portugal, a tradição é para ir buscar ao Estado.

Mudemos de assunto.

No caso do cancro da cabeça e pescoço, faz sentido a prevenção do álcool e do
tabaco? São fatores de alto risco?
- Seguramente, no carcinoma da cavidade oral. E nela incluo todas as vias aéreas digestivas superiores, VADS, Cavidade oral, orofaringe, laringe, traqueia, esófago. pulmão. Todas estas
doenças têm algumas causas semelhantes, entre as quais o fumo, o álcool, a
associação fumo-álcool. O fumo e o álcool potenciam a prevalência, mas a
associação dos dois potencia enormemente. O álcool altera as proteínas da mucosa
oral. Depende do grau de concentração alcoólica. O cancro oral não tem campanhas
de sensibilização, como o ginecológico ou o da mama, e é pouco falado, apesar da
prevalência grande de cancro oral. Tem-se investido muito no tratamento, na
radioterapia, na quimioterapia, na cirurgia, na reconstrução, mas o cerne da
questão não está aqui. Podemos diminuir os efeitos secundários, aumentar a taxa
de sobrevida, dar qualidade de vida a um doente desfigurado através da
reconstrução. O cerne é o rastreio, alterando-o radicalmente. O cancro da mama
diminuiu muito por causa das campanhas. Dantes, um cancro da mama era
diagnosticado quase sempre por um nódulo claramente palpável, um caroço. Hoje.
isso é raro, não chega a essa fase. O rastreio do cancro da cavidade oral também
podia ser feito, se os nossos cuidados primários de saúde funcionassem. A saúde
oral faz parte do Plano Nacional de Saúde. Melhorar e sensibilizar em relação
aos sinais de tumores nessa cavidade e na orofaringe e melhorar a acessibilidade
da população aos cuidados de saúde oral. A medicina dentária tem um papel
fundamental. Ora, a medicina dentária está ¦virada para a dentisteria e os
implantes. - Poupava-se muito dinheiro à medicina pública com esse
rastreio...
- 70% dos doentes que nos chegam, já chegam em fase muito avançada. Não foram detetados. Ou por causa do estigma do cancro ou porque o médico não viu que havia um cancro da língua ou da gengiva e medicou um antibiótico, um anti-inflamatório... Nos 30 anos que levo aqui, o panorama não se alterou. Ninguém fala em cancro da cabeça e pescoço. A tiroide não dá sinais,
mas o cancro oral vê-se. São cancros rápidos e com uma mortalidade terrível, tal
como o cancro do pulmão.
- O Presidente Lula está metido num sarilho...
- Não. porque teve cancro da laringe, e o cancro da glote é, de entre os da cabeça e pescoço, particularmente bom. No pulmão, percebe-se que não se diagnostique precocemente, tal a rapidez. O rastreio deste cancro não está perfeitamente estabelecido. É tão rápido na sua evolução que a pessoa pode fazer um exame de raios X num ano e estar boa e no ano seguinte ter um cancro inoperável. O rastreio do cancro da mama, ginecológico, colorretal, está
estabelecido. Na próstata, há um determinado número de neoplasias em que o
rastreio é importante. Mas não haver rastreio do cancro da cavidade oral. que se
vê muito bem, é incompreensível. E depois temos de tirar a língua, a
mandibular... E uma cirurgia altamente mutilante. com impacto estético e
funcional enorme, mais a desintegração social, profissional e familiar. Qual é o
médico de família que manda abrir a boca? São 30 segundos. Ninguém faz isso.
- Aqui, também têm de dar acompanhamento psicológico, psiquiátrico. O
tempo investido em cada doente é enorme. No IPO, um médico de topo ganha
muitíssimo menos do que um mediano administrador de uma empresa. E tem de ter
empada com o doente. Trabalhar num lugar destes não é fácil, os casos humanos
exigem muito...
- Das funções sociais do Estado, a Saúde é o sector em que o grau de execução tem melhorado extraordinariamente, e os resultados também. É o melhor sector de todos. Sem dúvida. E exige muito dos médicos. As pessoas acham que nos abstraímos, desumanizamos, mas não é verdade. Não somos peças. Vivemos intensamente estes problemas. A solidão do doente faz
com que ele fixe no médico todas as expectativas. Às vezes, o doente é
abandonado pela família. O médico diz a verdade, que o doente só tem alguns
meses de vida?
- Em Oncologia cria-se uma relação especial. Somos confidentes dos doentes. Não podemos faltar à verdade ao doente. Cada caso é um caso. e o processo é longo. Vamo-nos apercebendo do que o doente quer saber. Isto dos prazos é muito relativo. Podemos enganar-nos. Temos de gerir tudo, falar com a família... Mas a relação com o doente é altamente compensadora,
apesar dos falhanços e dos desaires tremendos. Não passamos o portão do hospital
e esquecemos tudo, ficamos a pensar. Temos casos que recordamos uma vida
inteira. Os dilemas, as angústias. Se eu tivesse decido assim... A unidade de
psiquiatria no hospital oncológico tem de ter uma vertente em relação ao doente
e outra para todo o pessoal envolvido no tratamento. Enfermeiros, médicos,
técnicos, etc.
- É pesado trabalhar aqui?
- É, mas eu gosto do que faço. é o que me dá prazer. Os profissionais de enfermagem têm um
contacto muito direto com os doentes e dão-lhes uma ajuda tremenda, ouvindo-os.
Muitos são jovens. É preciso estoicismo e força espiritual para ultrapassar
isto. Tenho promovido no serviço ações em que as pessoas possam falar, nem que
seja para se zangarem. Para evitar que entrem em burn-out. A percentagem de
burn-out é elevada.
- E tempo para investigar, estudar? -
Quando se chega a casa, vai-se para o computador. Não pode ser no horário do
hospital. Felizmente, com um clicar temos acesso aos protocolos do M.D. Anderson
em Houston, ao Villejuif, ao Memorial... A partilha e interação são grandes,
graças às novas tecnologias. E depois, no caso da cirurgia, é preciso instinto e
é necessário praticar. Muito.
- O tratamento do cancro não traz rentabilidade às seguradoras nem aos privados. Veja-se o preço do tratamento Gamma Knife. Quem paga aqueles preços? Não deveríamos dotar os IPO de
equipamentos e serviços state of the art? Visto serem os únicos hospitais onde o
cancro é tratado a sério. Este edifício é ainda o velho hospital de Palhavã,
decrépito...
- O IPO do Porto tem umas instalações state of the art. Aqui, se eu sair e regressar, não tenho onde estacionar. O IPO de Lisboa atrasou-se muito em relação ao do Porto. Um atraso monumental. O cancro é a primeira causa de morte natural. Tem de haver um plano oncológico nacional que defina a estratégia dos Institutos. Houve uma rede de referenciação em
Oncologia, que foi feita com o ministro Correia de Campos no segundo governo
Guterres e que se integrava num plano nacional. Define a circulação dos doentes
desde os cuidados primários, o que se trata e quem. Por exemplo, há uma regra de
ouro em cirurgia do cancro do recto: tem de ser bem tratado na primeira
intervenção, que condiciona tudo o resto.
- Fundação Champalimaud. Qual a relação com o IPO?
- A Fundação Champalimaud começou mal. Devia ter começado melhor já que ia trabalhar na área da Oncologia. Começaria por tentar chamar as pessoas mais marcantes da Oncologia nacional, quanto mais não fosse para estarem presentes na inauguração da Fundação. Não percebo porque é que estava lá o doutor em Economia e não estavam o presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia ou os presidentes dos Institutos de Oncologia. Além de instituições de
investigação, como o IPATIMUP... Mas a Fundação existe. Tem condições boas, tem
bom equipamento, tem profissionais... Alguns saídos do sector público. Mas
falta-lhe os doentes. É tudo muito bonito, os jardins, etc, mas no outro dia fui
lá e não há doentes.
- As pessoas lêem que a Fundação Champalimaud tem uma máquina de radioterapia inovadora, caríssima, que poupa o doente aos efeitos secundários, e perguntam porque é que o IPO não tem...
- Têm o IMRT, uma radioterapia de intensidade modulada, que tenta preservar as estruturas
anatómicas. Mas o IPO também tem. Só que os jornais dão azo a esses equívocos. A
grande parte das técnicas da Fundação Champalimaud já existe no sector público.
Eles vão comprar agora um aparelho caríssimo, de milhões, que de facto não
existe no sector público. Nem sei o nome dele. Há tempos, o presidente do CA
pediu às pessoas que pensassem sobre a Fundação Champalimaud. Porque têm
instalações, máquinas, e nós temos os doentes, que são uma riqueza incalculável
em casos clínicos. A minha resposta foi a de que deveríamos engolir sapos. Por
mais que me custe engolir sapos. Tentar estabelecer um protocolo. Se o IPO não
aproveitar isto, outros o vão fazer.
- Quem é que tem acesso aos
tratamentos caríssimos?
- Até agora tive dois doentes tratados lá. Ambos tinham seguros de saúde milionários, feitos no estrangeiro. É bizarro que nunca tenhamos sido convocados pela Fundação Champalimaud para discutir o assunto. E a Fundação veio buscar ao IPO o presente diretor clínico. Quer que
lhe diga o que penso mesmo? Aquilo faz pena. Está deserto. Por isso eles dizem
que têm um novo conceito: os doentes não têm uma sala de espera e entram
diretamente para os gabinetes. Teriam de ter centenas de gabinetes e centenas de
médicos. - O terreno das instalações, à beira-mar, foi oferecido pelo Estado. - Exatamente. A Fundação Champalimaud tem parque de estacionamento, muitos seguranças, jardins bonitos... Tem tudo menos o principal. Faz-me pena.

Sustentabilidade do SNS



Decorria o mês de Outubro de 2002.

Na altura era Presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia, e por inerência competia-me proferir o discurso de abertura do IX Congresso Nacional deOncologia.

À cerimónia de abertura presidia o Exmo Sr. Ministro da Saúde. Dr. Luís Filipe Pereira.

Vivia-sea necessidade de reestruturar o SNS, e a febre de empresarialização dosHospitais era uma realidade que cruzava transversalmente os partidos políticosmaioritários e a sociedade civil.

Mas os perigos de uma política exclusivamente baseada em critérios economicistasera uma realidade e a missão Pública dos Hospitais, encontrava-se comprometida.

Tomando como alvo primordial o doenteoncológico, tentei sensibilizar o Sr. Ministro da Saúde para estes riscos,abordando os temas do direito à igualdade na acessibilidade ao diagnóstico etratamento do doente oncológico e o direito à assistência diferenciada em todasas fases da doença oncológica.

Justifiquei aminha ansiedade como preocupações lógicas, lícitas e humanas para quem a lutacontra o cancro tinha constituído um dos principais objectivos da sua vidaprofissional, e não como um obstáculo relativamente às medidas propostas.

Afirmei que estas preocupações deveriam sercompreendidas como o desejo de uma sã convivência entre o estado liberal e umestado social.

Reafirmei a necessidade de implementação de uma rede de referenciaçãoem Oncologia

Vinquei as minhas posições como as de alguém que, longe de estar contraa mudança, seria o primeiro a apoiá-la, desde que salvaguardados os princípiosfundamentais enunciados.

Ao Sr.Ministro da Saúde enderecei votos sinceros para que, em estreita colaboraçãocom os médicos, conseguisse levar por diante o ciclópico desafio que certamentesó por dever cívico tinha decidido aceitar.

Afirmei aindaque se vencesse, ganharíamos todos e ganharia Portugal.

Passaram dezanos!

Deixei aPresidência da Sociedade Portuguesa de Oncologia desde essa altura e limito-meao meu papel de médico com funções Directivas numa instituição oncológica,acumulando ainda alguns cargos menores em Sociedades Cientificas específicas.

Presentemente,fruto de erros imperdoáveis cometidos por todos mas muito especialmente portodos os políticos que nos têm governado, é com profunda mágoa que me deparocom o progressivo abandono dos valores de cultura médica, ética e moral quecaracterizaram o juramento de Hipócrates assumido por todos os Médicos.

Aacessibilidade ao diagnóstico e tratamento é cada vez mais desigual e o direitoinalienável a uma assistência diferenciada célere e de qualidade estádefinitivamente comprometida.

A hierarquiafundamental da competência é constantemente posta em causa, em detrimento de umclientelismo administrativo que compromete os princípios básicos pelos quais sedeveriam reger as unidades hospitalares.

Asustentabilidade do SNS atravessa um período de graves ameaças à sua sobrevivência,pese embora o discurso dos actuais governantes querendo-se passar por grandesdinamizadores e defensores deste serviço público.

Dez anosperdidos e em que a conclusão é óbvia!

O simbolismoda revolução francesa, representado pelos sentimentos de “igualdade, liberdadee fraternidade” são palavras vãs e sem sentido

Os doentes,única razão da existência e funcionamento dos Hospitais, continuarão a ser as grandesvítimas da desigualdade da falha no sentido da equidade e do desastre naredistribuição.

Pela nossaparte mercê de uma evolução biológica inexorável. será cada vez mais eminente anossa passagem para esse grupo.

Esta é uma tristeperspectiva para os anos de vida que nos restam!


quinta-feira, 29 de março de 2012

VI CURSO DE ONCOLOGIA ORAL DO IPOLFG


VI CURSO DE ONCOLOGIA ORAL
JORNADAS DE PATOLOGIA ORAL E DAS GLÂNDULAS SALIVARES
SERVIÇO DE CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO
Director: Dr. Jorge Rosa Santos

Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil IPOLFG , EPE

15 e 16 de Novembro de 2012
LOCAL: Anfiteatro do IPOLFG - Lisboa

DIRIGIDO A: Médicos Estomatologistas, Médicos-Dentistas e estudantes de Medicina e de Medicina Dentária, Cirurgiões Maxilofaciais, ORL, Cirurgiões Plásticos, Cirurgiões Gerais, Clínicos Gerais, Higienistas Orais e todos os profissionais ligados à Saúde Oral

DATA : 15 de Novembro de 2012 (5ª feira) e 16 de Novembro( 6ª feira)

INSCRIÇÃO:
Estudantes de Medicina e de Medicina Dentária * Grátis
Médicos e Médicos-Dentistas Euros 50
Profissionais de Saúde Oral não médicos Euros 50
Profissionais do IPOLFG…………………………………………..........Grátis

* Fotocópia do cartão de estudante

Secretariado :

Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço
IPOLFG, EPE
Helena Reis
Av. Prof . Lima Basto
1099-023 Lisboa
Tel 21 722 98 00 - ext. 1518, BIP 4137
Fax 21 724 87 47
E mail: cir.cabecapescoco@ipolisboa.min-saude.pt
ccp@ipolisboa.min-saude.pt

Aceitação de posters até 31 de Outubro – deverá ser enviado resumo do poster com indicação dos Autores e Serviço ou Instituição onde foi elaborado


5ª feira – 15 de Novembro
8,30 h - Abertura do Secretariado

9,15 / 12 h – Como fazemos - cirurgia em directo comentada Daniel de Sousa

12,15 h - Abertura oficial do Curso

Conferência : SNS em tempos de contigência - Dr. Álvaro Beleza

15 h – Mesa - redonda: Tratamento do cancro oral – estado da arte
Moderador: J. Rosa Santos
Cirurgia J. Rosa Santos
Eduardo Netto/Telma Antunes
Oncologia médica e carcinoma avançado
Margarida Ferreira/Isabel Sargento
Experiência do Serviço Mariluz Martins
Discussão


17 h - Mesa-redonda : Complicações orais das terapêuticas do cancro
Moderador: Daniel de Sousa
Reabilitação oral João Caramês
Hipo e assialia pós-Rt Filipe Freitas
Bifosfonatos e osteonecrose dos maxilares J. Silva Marques
Discussão


18 h Discussão de posters


6ª feira – 16 de Novembro
9 /12 h – Como fazemos - Cirurgia em directo comentada Carlos Zagalo

12,30 h- Conferência : HPV- mecanismos de infecção e carcinogénese oral Prof. Kari Syrjanen



15 h – HPV e cancro oral
Moderador: Rui Medeiros
Epidemiologia do cancro da orofaringe e HPV – factores de risco em mudança Stina Syrjänen
Implicações da infecção HPV para o tratamento Stina Syrjänen
Biologia molecular e marcadores no diagnóstico Carmo Ornelas
Rastreio ( screening ) e vacinação Maria Clara Bicho


17 h – Tumores das glândulas salivares - Diagnóstico e tratamento actual
Moderador: Isabel Fonseca
Avanços em patologia das glândulas salivares Isabel Fonseca
Parotidectomia total ou parcial? Pedro Gomes
Síndrome de Frei Conceição Magalhães
Dinamização da face paralisada Miguel Vilares
Discussão


Participantes do IPO
Dr Jorge Rosa Santos (CCP - Director do Serviço)
Prof. Doutor Daniel de Sousa (CCP e FMDUL)
Prof. Doutor Carlos Zagalo (CCP , FMUL e ISCS Egas Moniz)
Dr. Pedro Gomes (CCP)
Dra. Conceição Magalhães (CCP)
Dr. Miguel Vilares (CCP)
Dra. Mariluz Martins (CCP)
Profª Doutora Isabel Fonseca (Dep. Patologia Morfológica)
Profª Doutora Carmo Ornelas (Lab. Virologia)
Dr. Eduardo Netto (RT)
Dra. Margarida Ferreira (OM)
Dra. Isabel Sargento (OM)

Participantes convidados

Prof . Doutor Kari Syrjänen (Universidade de Turku, Finlândia)
Profª. Doutora Stina Syrjänen ( Universidade de Turku, Finlândia)
Prof. Doutor Rui Medeiros (IPO Porto, ICBAS)
Profª Doutora Maria Clara Bicho
Prof. Doutor Luís Costa (HSM)
Prof. Doutor João Caramês (FMDUL)
Prof. Doutor J. Silva Marques ( ISCS Egas Moniz)
Dr. Filipe Freitas (FMDUL)